Recentemente, temos visto artigos como aqueles publicados no Antiquity e no The Guardian que associam os Geoglifos do Acre ao El Dorado, o que tem levado a uma grande confusão sobre o esse tema, uma vez que historicamente a localização clássica deste não é colocada na supracitada região, e sim em Roraima e na Guiana, no local aonde os mapas antigos o situavam e em que foi por nós descoberto aquele que era tido historicamente seu marco geográfico, o gigantesco mar interior extinto chamado de Lago Parima (e), Manoa, Rupununi ou White Sea. Como membros da equipe de Roland Stevenson e descobridores do extinto Lago Parima, cumpre a nós tentar lançar algumas luzes sobre esse tema que, após tais artigos, tornou-se ainda mais intrincado. A arqueóloga reponsável por essa teoria parece estar desfigurando um mito para adaptá-lo as suas concepções em parte comprovadamente equivocadas. É certo que os estudos da arqueóloga responsável por essa teoria estão contribuindo para o esclarecimento do tema respeitante ao Reino dos Omáguas, às vezes chamado historicamente de El Dorado dos Omáguas, contudo ,quanto ao mundialmente célebre El Dorado, o de Paititi e do Lago Parima, ela simplesmente subverte e distorce o mito,assim como as menções históricas pertinentes, de forma a adaptá-los as suas necessidades. Elogiamos o meritosíssimo trabalho dessa arqueóloga sobre o Reino dos Omáguas, contudo comprovamos estar inteiramente equivocada a maior parte seu trabalho em relação àquele que constitui o mundialmente celebre El Dorado dos Incas, ou seja, o El Dorado do Lago Parima, Manoa ou Rupununi.
Em primeiro lugar ,devemos esclarecer que não descartamos a possibilidade de existirem duas regiões distintas que possam representar a silhueta histórica do mito do El Dorado, além, é claro, da região do Lago Guatavita da Colômbia, que deu origem primeva a esse termo. Nesse caso hipotético, os Incas teriam conquistado e se estabelecido em parte de Rondônia e do Acre, se apossando da grande província mineral existente nessa localidade, da mesma forma que comprovadamente o fizeram na região que compõe o El Dorado do Lago Parima de Roraima e da Guiana .Assim, hipoteticamente, o El Dorado seria uma mitificação de duas realidades históricas concretas e diversas, representadas por ponteiros do Império Inca situados nessas duas grandes províncias minerais distintas da Amazônia. Então, a região dos Geoglifos do Acre seria associada ao El Dorado do Paititi ,enquanto a de Roraima e da Guiana seria associada ao El Dorado do Parima ou de Manoa, tal como comprovadamente o foi, a partir do momento em que ocorreu a descoberta do extinto Lago Parima. De fato, muitos especialistas em El Dorado mundialmente reconhecidos, como o antropólogo membro de nossa equipe Gregory Deyermenjian, distinguem o El Dorado do Paititi do El Dorado do Parima, colocando cada qual em uma dessas respectivas localidades. Contudo , o Dr. Deyermejian tem o El Dorado do Parima como a mitificação de uma realidade histórica concreta, ao passo que considera o El Dorado do Paititi até agora meramente hipotético, sendo nós concordantes com sua posição. Não obstante, em certos casos, como no da Relação de Alvarez Maldonado(1568) citada de forma distorcida pela arqueóloga responsável por aquela teoria, o El Dorado de Paititi é identificado com um gigantesco lago (Lago Parima(e) ou Manoa), sendo por ele situado claramente numa região muito próxima ao Mar do Norte como o colocamos em uníssono com os mapas antigos, e não na localidade apontada por tal arqueóloga. É preciso fazer um aparte, porém,afirmando que na Relação de Alvarez Maldonado, a localização de tal lago não é colocada com grande precisão, ao contrário de diversos mapas antigos e menções históricas, que colocam esse lago(Parima) no exato local em que o situamos. Então, em certos casos excepcionais, como no daquela Relação ,o El Dorado do Parima parece ser associado ao El Dorado de Paititi, o que dificulta ainda mais a comprovação do trabalho daquela arqueóloga. Pior ainda para os defensores daquela teoria é quando essa arqueóloga afirma através de evasivos malabarismos teóricos sem qualquer fundamento que o Lago Parima é o Rio Amazonas, e isso mostra-se totalmente descabido. É terrivelmente forçado e não faz qualquer sentido tentar associar o Lago Parima ao Rio Amazonas ,isso violenta as inúmeras menções históricas respeitantes ao Lago Parima. Lembremos que os maiores naturalistas e geógrafos do sec. XIX, após investigarem profundamente as mençoes históricas e tradições indígenas relacionadas, concluiram que a lenda do Lago Parima havia tido origem na mesma região de que tratamos.Não perderemos tempo aqui tentando explicar em poucas linhas essa teoria descabida, pois nem a sua criadora conseguiu explicá-la satisfatoriamente num artigo de várias páginas.Dizemos apenas que, se foi por nós descoberto um imenso lago extinto na exata região tida historicamente como a localização clássica do gigantesco Lago Parima, aquela teoria está com toda certeza equivocada.
Lembremos serem até onde sabemos inexistentes as menções históricas que situam o El Dorado do Parima na região amazônica fronteiriça entre o Brasil, Peru e Bolívia, ao passo que são muitíssimo abundantes e precisas as menções históricas que situam o El Dorado do Lago Parima na antiga Guiana, abaixo da Serra Pacaraima e a oriente da grande Serra Parima, que inclusive até hoje possui o nome que os indígenas Caribe davam ao gigantesco lago salgado do El Dorado, significando Serra do Lago Grande, devido certamente ao fato de que, na época em que esta foi denominada pelos indígenas, de seu cimo o gigantesco lago recentemente extinto por nós descoberto ainda podia ser observado na linha do horizonte.Não é à toa que o rio Branco(RR) chamava-se rio Parima (e), segundo diversas menções históricas e mapas antigos,além do que diversos rios da região conservam essa mesma nomeclatura até os dias de hoje. Embora a supracitada relação de Alvarez Maldonado não seja tão clara quanto a localização daquele lago, diversas outras apontam essa localização com absoluta clareza. Tanto que, por três séculos ,essa região que atualmente compõe parte de Roraima e da Guiana permaneceu nos mapas antigos como sendo a localização do Lago Parima do El Dorado. Sem qualquer dúvida é essa, e não aquela, a região que pode ser tida como a localização histórica clássica do El Dorado. Indubitavelmente, era nessa região que os Incas, Caribe, Macuxi, Achauá, entre outros, diziam existir o El Dorado do Parima ou de Manoa, que tinha como marco esse gigantesco lago, o que é comprovado por inúmeras menções dos cronistas coloniais, tendo sido este o principal motivo dos mapas antigos colocarem aquele na referida localidade. Já, nenhum mapa antigo coloca o El Dorado na região fronteiriça Brasil-Peru-Bolívia, o que dará bastante trabalho aos pesquisadores que desejem comprovar aquela hipótese, a não ser que encontrem a até agora mítica metrópole Inca. O problema daquela hipótese é a ausência de menções históricas ou mapas antigos que coloquem o El Dorado, seja de Paititi ou do Parima, na região por ela proposta, o que pode indicar ter sido esta apenas uma das províncias minerais auríferas utilizadas pelos Incas, e não aquela que legitimamamente pode ser associada à Província Mineral do El Dorado, mesmo que os pesquisadores comprovem terem os Incas utilizado também os minerais da primeira advindos.
Não obstante, a hipótese que associa a região dos Geoglifos do Acre ao El Dorado do Paititi pode sem qualquer problema estar pelo menos em parte correta, sendo bastante possível que os Incas conhecessem e utilizassem também a grande província mineral existente no Acre e em Rondônia. Se levarmos em conta terem sido encontradas em Rondônia armas Incas feitas em esmeralda originária da Colômbia, além das estradas de pedra possivelmente Incas de Rolim de Moura e os muros da Serra da Muralha de Abunã, admitimos ser plausível, porém ainda muito distante, a hipótese que associa essa região ao El Dorado do Paititi. Mas, obviamente ,os geoglifos não são associados aos Incas nem ao El Dorado, simplesmente por serem em sua maioria anteriores a estes, o que mostra ser até agora extremamente forçada qualquer associação direta de tais geoglifos àquele. Ora, devemos lembrar que o próprio termo El Dorado , seja do Parima ou de Paititi, remete a uma grande colônia Inca e a uma grande província mineral Inca, e não a algo relacionado aos pre-incas ou a outros povos . Não queremos desmerecer o imenso valor cultural dos geoglifos do Acre, os quais constituem a segunda maior descoberta do Brasil nos campos específicos por comprovarem a existência do antes mítico Reino dos Omáguas, perdendo apenas em importância para a descoberta do Lago Parima, pois esta comprova possuir o mito do El Dorado uma fundamentação histórica. Dizemos apenas que a imensa maioria destes geoglifos são anteriores aos Incas ,não podendo, por isso, serem eles associados ao El Dorado do Paititi, a menos que sejam encontrados artefatos Incas no subsolo destes, provando a sua ocupação por tal povo. Lembremos que o próprio nome Paititi remete direta e fatalmente aos Incas. Então, não podemos relacionar ao termo El Dorado de Paititi quaisquer vestígios que comprovem a existência de civilizações pré-cabralinas com avançado nível técnico nessa região da Amazônia brasileira, a menos que tais vestígios sejam de procedência Inca e que comprovem terem estes conquistado a região pertinente e utilizado sua província mineral. E ,ainda assim, mesmo que tais vestígios fossem encontrados dentro dos geoglifos, restariam dúvidas a respeito de uma eventual relação destes para como o El Dorado do Paititi. Ao que tudo indica, os geoglifos e lagoas artificais descobertas naquela região fornteiriça representam a silhueta histórica de uma cultura chamada historicamente de Reino dos Gran Moxos ou Reino dos Omáguas, e não ao El Dorado de Paititi, uma vez que este é indissociavelmente relacionado aos Incas. Certamente, o Reino dos Omáguas tomou emprestado por breves momentos da história o nome daquele, tendo sido chamado historicamente de "El Dorado dos Omáguas", contudo todos hão de convir que este mito não atingiu nem a décima parte da repercussão mundial do El Dorado Inca, representado pelo de Paititi e do Lago Parima ou Manoa. Para nós e para todo mundo, o El Dorado é associado aos Incas, e não aos tão pouco conhecidos Omáguas. Com efeito ,o El Dorado dos Omáguas é de importância histórica secundária se comparado ao primeiro, jamais podendo equiparar-se em sua celebridade e valor cultural ao El Dorado do Parima e de Manoa.
Sendo assim, para lançar-se a difícil tarefa comprovar a hipótese de que a supracitada região de Rondônia e do Acre representa a silhueta histórica do El Dorado de Paititi, os pesquisadores devem concentrar-se em encontrar mais sítios Incas que indiquem ter sido ela conquistada e explorada em suas jazidas minerais por tal povo, de forma a não colocar os Geoglifos em si mesmos como os sustentáculos de tal associação, o que seria bastante forçado e descabido, a menos que fosse comprovado que os Incas os ocuparam e utilizaram. Ainda assim, restará aos pesquisadores a difícil missão de comprovar ser essa a Província Mineral do El Dorado do Paititi, e não apenas uma das províncias minerais ordinárias dos Incas,levando em conta a ausência de menções históricas e de mapas antigos que o coloquem nesse local. Quanto à Serra da Muralha, devemos lembrar que seu estilo arquitetônico remete mais aos pré-incas do que aos Incas da região fronteiriça da Bolívia e Peru. Portanto, somente após serem realizadas escavações na Serra da Muralha (RO) poderemos cogitar sobriamente sobre a possibilidade desta ter de fato alguma relação com o El Dorado do Paititi, considerando que se for de procedência pré-inca tal relação não poderá ser afirmada, a menos que achados indiquem ter sido ela ocupada pelos Incas. Da mesma forma, enquanto não forem feitas escavações nas estradas provavelmente Incas de Rolim de Moura(RO) não se poderá afirmar de forma mais embasada tal relação. As armas de esmeralda Incas descobertas em Rondônia comprovam apenas a presença desse povo na região determinada, o que por si só já é muito importante, indicando que houveram lutas para conquista territorial visando a expansão do Império Inca, mas ainda é cedo para afirmar categoricamente que o El Dorado do Paititi possui fundamentação histórica comprovada pelos achados de qualquer ordem dessa região. As estradas de pedra, ao que tudo indica pré-colombianas, encontradas em Rolim de Moura, representam muito provavelmente as vias utilizadas estrategicamente pelos Incas para consecução de seus propósitos de expansão territorial, mas ainda é muito cedo para irmos além disso e afirmarmos precipitadamente ter sido descoberto o El Dorado de Paititi. De qualquer forma ,parabenizamos os desbravadores daquilo que, caso novas pesquisas o comprovarem futuramente, pode constituir de fato a fundamentação histórica do El Dorado do Paititi. Já ,quanto à fundamentação histórica do El Dorado do Parima, podemos afirmar ter sido esta definitivamente comprovada, a partir do momento em que foram descobertas imensas jazidas auríferas, diamaníferas e de gemas preciosas de aluvião e subsolo na exata localização em que as menções históricas situavam a Província Mineral do El Dorado do Parima e , sobretudo, a partir do descobrimento do gigantesco extinto Lago Parima que era o marco geográfico daquela, a menos que tal descoberta não tenha ocorrido ,mas esse não é caso, considerando que provas de diversas ordens, algumas enunciadas no decorrer desse blog, comprovam definitivavente que aquele lago existiu de fato no passado ,não tendo sido antes descoberto em razão de ter se secado. E, se assomarmos a descoberta do gigantesco extinto Lago Parima e da gigantesca província mineral situada em seu entorno as provas de âmbito histórico, arqueológico, linguístico ,antropológico e etnológico acerca da presença Inca em Roraima, sobre as quais continuaremos a tratar no decorrer desse blog ,podemos ter absoluta certeza de que o El Dorado do Parima não é uma mera lenda, mas a mitificação de uma realidade histórica comprovada.