quinta-feira, 17 de junho de 2010

Mais uma Copa do Mundo está se passando e o extinto Lago Parima do El Dorado continua esquecido pelos brasileiros.













Nada contra o fato do futebol ser o esporte preferido de nós brasileiros, é totalmente comum e nada patológico que uma nação tenha uma modalidade desportiva a que devote sua predileção. O que não é nada comum é uma nação colocar um esporte como seu símbolo nacional maior, uma vez que isso levaria seu povo a uma relação dúbia e ambígua para com tal símbolo, conduzindo a momentos de exaltação à pátria nas vitórias, seguidos por raivosas vaias e um ódio furibundo contra ela nas derrotas ,considerando que, neste caso, não seria uma mera seleção em campo, mas uma espécie de emblema metafísico revestido com qualidades transcendentes a uma mera seleção, tornando-se a personificação viva de uma nação. O problema foi o Brasil ter colocado esse esporte como o seu símbolo nacional, o que tem nos causado mazelas culturais profundas, tornando-nos reféns de um patriotismo estéril e deformado que, nos momentos de derrota da seleção brasileira, acaba fazendo com que nos voltemos odiosamente contra tal símbolo e, por conseguinte, contra a o nossa própria nação por ele corporificada. Quando nos referimos a esterilidade desse patriotismo futebolístico levamos em conta que, para os espectadores, o futebol não é uma realidade de que são agentes, e sim um sucedâneo desta, tornando-se uma fuga evasiva que serve apenas para escamoteá-la. Temos a nossa torcida na copa do mundo como o nosso dever cívico maior e nos transformamos nessa época na capital mundial do patriotismo estéril, torcemos tão fervorosamente e com tanto amor à pátria que exaurimos durante este período quase todo o nosso alento patriótico, para ,durante os quatro anos que se seguem, termos aquele fervor debelado a ponto de transformar-se em uma baça e mortiça labareda. Em razão de fugir ao meu campo de pesquisas ,não posso afirmar de nenhuma forma estarem certos aqueles que afirmam ter sido a nossa "cultura futebolística" consolidada e exaltada na época da ditadura com auxílio de órgaos de inteligência internacionais e com suporte midiático estratégico de uma determinada emissora, a fim de ser transformado artificialmente em nosso símbolo nacional. Como mero e livre observador do mundo que me cerca posso afirmar apenas que a edificação desse símbolo nacional, seja por coincidência ou não, atendeu de forma excelente os presumíveis intentos favoráveis aos ditadores, como agente facilitador das suas práticas de controle das massas, ao passo que possa ter servido a eventuais interesses internacionais que nos são adversos em todos os aspectos, talvez sem se aperceberem disso aqueles ditadores, ao consolidar uma identidade cultural nacional que constitui um entrave ao nosso desenvolvimento econômico,mental e cultural, quando nos faz vítimas do patriotismo estéril , desvirtuado e instável a que nos referimos. Enquanto isso, continuamos a tratar de forma pejorativa a nossa milenar cultura primordial, a qual deveria ser o nosso Símbolo Nacional maior, por representar um paradigma que funcionaria como um contraponto para a visão "desenvolvimentista "de origem européia e que, se integrado a esta de forma a contrabalanceá-la, poderia representar um arquétipo salvífico, em razão de nos apontar um caminho para a superação da vultuosa e quase irreversível crise socio-ambiental pela qual passamos. Mas, nos fixamos na visão desenvolvimentista e na prepotente antropologia evolucionista há muito ultrapassada, e continuamos a ver com ares de inferioridade todos aqueles nossos aspectos culturais indígenas, em razão de desconhecermos a grandeza e o avanço dos valores corporificados por nossa cultura nativa. Então, nossa cultura milenar está perdendo de goleada para uma cultura artificialmente reforçada, que é imatura não só em sua idade, mas pelo fato de nos levar a ser um povo eternamente infantil ,pois não pode ser tido como amadurecido um país que nega e inferioriza a sua própria cultura, edificando simbolos artificiais e instáveis às expensas desta. Obviamente, torceremos para a nossa seleção nessa Copa do Mundo, mas torcemos de forma mais sóbria, apenas para a nossa seleção, e não para aquele símbolo nacional artificial que ela corporifica para muitos. Para nós, ela é apenas o time do nosso amado país, e nada mais do que isso, pois não consideramos o Brasil o "País do Futebol" ,e sim o país do El Dorado, das Amazonas, do Sumé, do Peabiru, tão desconhecido pela maioria dos brasileiros. O Sumé era o "Pai de Nossa Pátria" para o gigante imortal Heitor Villa-Lobos, o inigualável estudioso da cultura brasileira que a transformou em nossa música maior, coisa com que concordamos totalmente, mas, se for assim de fato, podemos ter-nos em conta de orfãos, em razão de em geral desconhecermos totalmente quem foi "esse tal de Sumé".















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