domingo, 13 de junho de 2010

El Dorado do Parima: Em defesa do Ayahuasca, por uma Terra Sem Males.


Fujo agora do tema principal desse blog, pertinente à descoberta do extinto Lago Parima do El Dorado, para discorrer sobre um assunto indiretamente relacionado, que trata do inviolável direito de liberdade religiosa no concernente à utilização sacramental do Ayahuasca, diante das recentes perseguições de uma minoria política de inquisidores que, após o lamentável assassinato de Glauco Villas Boas, está tentando proibir tal uso para não indígenas. Peço que me compreendam os respeitáveis membros e líderes das grandes religiões, que em sua imensa maioria há muito tem sido norteados pelos princípios da honestidade, do ecumenismo e da tolerância religiosa, sendo os comentários um pouco duros que faço aqui não direcionados de nenhuma forma a estes, mas apenas aos que estão na contramão da história e lutam pelo fortalecimento do falido proibicionismo e pela perseguição religiosa. Na verdade, a legislação vigente no Brasil já cerceia em parte a liberdade religiosa em relação ao Ayahuasca, considerando que as organizações religiosas que o utilizam são as únicas de nossa nação a que não é permitido fazer catequese, o que denota um certo preconceito da sociedade e dos políticos nacionais em relação às culturas nativas de nosso país, que sempre tiveram em sua grande maioria a utilização de entéogenos como um aspecto indissociável de suas práticas religiosas. É permitido a outras igrejas que reconhecidamente extorquem os seus fiéis criarem gigantescas campanhas e missões catequéticas com exércitos de pregadores, enquanto isso é vedado às nossas religiões nativas que nunca tiveram um número muito grande de adeptos nem grandes pretensões financeiras, e que por direito tinham que ser tidas como patrimônios culturais, devendo, portanto, ser incentivadas, ao invés de tolhidas em sua liberdade de pregação. Outro caso em que a liberdade religiosa é restringida em relação às religiões utilizadoras de Ayahuasca trata da vedação ao turismo religioso que envolva a utilização dessa beberagem. Em países cujas culturas nativas utilizavam Ayahuasca como a Bolívia e o Peru essa modalidade de turismo é feita sem qualquer empedimento do Estado, existindo uma infinidade de sites de turismo desses países que incluem a categoria de "turismo espiritual", na qual são oferecidos oficialmente na programação rituais com o uso daquela beberagem ou do cactos San Pedro, considerando que as autoridades desses países entendem ser legítimo o interesse de centenas de milhares de pessoas de todo o mundo em experimentar estas plantas para fins religiosos. Em nosso país é pemitido a certas religiões neopentecostais que reconhecidamente extorquem e ludibriam seus fiéis fazerem gigantescos eventos turísticos, com a participação de caravanas de todo o Brasil, e normalmente com a presença de de dezenas de milhares deles aonde são realizados pretensos "milagres" que, na maioria das vezes não passam de hipnose, neurolinguística ou de puro charlatanismo, sendo tais milagres em série eficientes chamarizes para que os exaltados fiéis se animem a contribuir de forma mais generosa com o dízimo. Assim, milhares de fiéis seriamente adoentados param de tomar remédios crendo terem sido curados, quando, na verdade, foram vítimas de uma mera hipnose que, no máximo, pode mascarar temporariamente seus males, e isso é sem dúvida um caso de saúde pública muito mais preocupante do que aquele que envolve o Santo Daime. Não afirmo que nas igrejas neopentecostais não possam ocorrer autênticos milagres, contudo pode-se observar que o que muitas delas fazem é utilizar práticas bastante conhecidas pela psicologia comportamental a que tanto recorrem os livros de auto-ajuda, além de grandes psicólogos internacionais terem já afirmado oficialmente que muitas igrejas desse tipo utilizam técnicas de hipnose e sugestão mental, tendo algumas obtido tamanha sofisiticação a ponto de utilizar técnicas de neurolingística de Milton Erickson, Richard Bandler ,John Grinder, José Silva, entre outros, para produzir pretensos milagres em grande escala, sendo justamente os representantes políticos de tais igrejas os mesmos que perseguem em suas pregações os bem mais inocentes Santo Daime e Candomblé, com seus enteógenos sagrados Ayahuasca e Jurema , discriminado algo que deveria ser tido como Patrimônio Cultural Nacional e, por conseguinte, devidamente protegido contra quaisquer práticas discriminatórias. Quanto às religiões ayahuasqueiras, o que a legislação vigente brasileira faz é regulamentar seu uso de forma a conter e frear seu avanço, impondo entraves a sua prática e expansão, o que notadamente é anti-constitucional e já denota uma certa perseguição religiosa,ainda que não ostensiva. Agora, aquela minoria deseja piorar ainda mais as coisas e vedar a utilização do Ayahuasca para não indígenas. Dessa forma, o Direito Eclesiástico de Estado seria totalmente subvertido, uma vez que perseguiria de forma excludente religiões com influência nativa, enquanto incentivaria a prática das de origem estrangeira em detrimento daquelas. E isso só se sucede nos países que perseguem e exterminam suas culturas nativas, como no caso de uma nação que se diz avançada e de fato o é em muitos outros aspectos, mas que simplesmente destruiu e obliterou na imensa maioria de seus Estados sua cultura ancestral a fim de exaltar exclusivamente valores que a esta eram opostos, e não de integrá-los as seus paradigmas nativos de forma a contrabalancear-lhes e atingir um ponto de equilíbrio. Assim, devido em parte a isso, tal país que se diz avançado e de fato o é em vários aspectos se tornou o maior poluidor do mundo, além de ter se revestido com uma mórbida sede de poder que acabará por tornar-se a sua ruína, se é que já não está se tornando, sede esta completamente estranha a sua cultura nativa.
















Como participante da descoberta do extinto Lago Parima do El Dorado e pesquisador das tradições indígenas da América Latina exponho minha opinião pessoal sobre essa minoria política e religiosa retrógrada que, certamente motivada pela intolerância, pretende criar um tribunal de inquisição contra a nossa cultura nativa. Além disso, essa minoria política, se realizar os seus intentos, o que é muito difícil, agravará ainda mais a condição de nosso quase colapsado sistema penal, que está inflado a ponto de explodir, e que parece estar prestes a voltar-se contra nós, em razão de estar tal sistema numa situação extremamente periculosa por alimentar ainda mais o ódio da multidão de furiosos delinquentes encarcerados em condições muitissimo precárias que cresce tão violentamente a ponto de ter se duplicado nos últimos nove anos, segundo dados oficiais ,sendo uma das dez maiores do mundo, além de mostrar-se cada vez mais organizada, tendo formado uma das mais poderosas facções criminosas de todo o planeta. Primeiramente, como pesquisador das tradições nativas latino-americanas, devo dizer que o Ayahuasca, cujo próprio nome remete a um Imperador Inca, possui imenso valor cultural, sendo um dos símbolos maiores da Integração Cultural da América Latina, por simbolizar a irmanação e a difusão de conhecimentos de duas vias entre os indígenas brasileiros e os da Bolívia, Peru, Equador, Colômbia e Venezuela. Depois disso, devo dizer que uma das realidades do "homem civilizado brasileiro" que mais são contrárias aos paradigmas da imensa maioria dos indígenas da Amazônia, abaixo de de nossa irresponsabilidade ambiental e ganância, é o nosso falido sistema penal, possuindo tais indígenas plena autoridade para julgar tal sistema na mais justa medida, por terem atingido em sua maioria algo bem próximo do Ideal da Justiça entre os membros de suas respectivas culturas ,com o auxílio de seus princípios e códigos normativos sócio-religiosos, nos quais o uso sacramental de enteógenos exerce importante papel, de forma a reduzirem ao máximo a necessidade de práticas punitivas entre si, sendo a taxa de homicídios entre os indígenas etnia, a exemplo dos Yanomâmi, Macuxi, Tukano, etc. talvez inferior a de muitos países da Europa. Gostaria de no futuro ter a oportunidade de mostrar para um grande pajé e de registrar sua opinião sobre as atrocidades perpetradas por nossa sociedade apresentadas em documentários como "O Prisioneiro da Grade de Ferro ", uma premiadíssima obra prima feita pelos próprios presidiários do já extinto Carandiru enquanto este estava ativado, que mostra com absoluto realismo a situação do sistema penal brasileiro, além de revelar aos incautos a eminência de uma guerra civil com ares políticos, considerando que a poderosíssima facção criminosa tratada no referido documentário está cada vez mais organizada e pretensamente politizada, chamado-se entre si de "companheiros ", além de ter-se em conta de "Partido". Com certeza, o pajé que visse tal filme ficaria absolutamente chocado, além de poder demonstrar que dentro de sua sociedade a Justiça é praticada de forma quase ideal e não da forma demagógica e subvertida como a praticamos, em razão de que o seu sistema socio-religioso reduz ao mínimo a necessidade de práticas repressoras e, quando tem de utilizá-las, o faz em geral de forma bem mais humana e compassiva. Dentre muitas outras eficientes práticas preventivas utilizadas pelas culturas indígenas brasileiras em geral está a de não serem estas espancadoras e torturadoras de crianças como a nossa sociedade muitas vezes o é, além de não condená-las à supressão de suas necessidades básicas primordiais como o fazemos, e isso é uma das pincipais práticas preventivas por eles praticadas por nós esquecidas. Outra de suas grandes virtudes é a de não se explorarem mutuamente ,nem condenarem à miséria seus iguais através das mais-valia e da usura. Se esse filme fosse mostrado a um pajé especialista em Ayahuasca como o já falecido Gabriel Gentil, um verdadeiro luminar e grande intelectual dos Tukano, tenho a certeza que isso resultaria numa aula de educação com lições avançadas de antropologia para o "homem civilizado"brasileiro .E ,se porventura dissesse a tal pajé que produtores de Ayahuasca não indígenas podem vir a ser condenados a perecer em lugares como aquele extinto presídio, no caso do Projeto de Lei pertinente ser aprovado ,ele consideraria isso uma perversão da justiça e uma verdadeira guerra religiosa e cultural, contrária a tratados internacionais.

Que autoridade moral tem o "homem civilizado" para julgar as religiões indígenas utilizadoras de enteógenos da Amazônia, sendo que estas foram um importante instrumento para garantir que a imensa maioria dos que habitam essa floresta alcançassem dentro de suas respectivas culturas o Ideal de Justiça que nem mesmo almejamos, por considerarmos para nós utópico? Que autoridade temos nós para censurar os costumes indígenas, se é a nossa moribunda "civilização" quem está ameaçando o sagrado equilíbrio da vida planetária? Sendo assim, o Estado não tem o direito de reprimir os não indígenas que se inspirem em valores e práticas religiosas de nossa cultura nativa, considerando que muitos valores apregoados por nossa moribunda "civilização" estão sem qualquer dúvida nos conduzindo inexoravelmente para a maior crise até agora enfrentada pela raça humana, tendo nós consumido o nosso planeta como uma insaciável besta devoradora. Mas políticos inquisidores, induzidos por retrógradas motivações religiosas, ou ideológicas querem forçar a conversão dos poucos brasileiros que ainda se fazem adeptos de religiões sincretistas indígenas. Na verdade, eles devem olhar para as suas próprias religiões e para a cultura da usura de que são herdeiros, cuja história é manchada pelas mais cruentas guerras motivadas por uma insaciável ganância de poder e, sobretudo, para o insustentável problema do sistema penal e jurídico brasileiro, com seus bárbaros presídios e intermináveis filas processuais. Mais ainda, a fim de tentar evitar o eminente colapso de nosso sistema penal ,esses políticos devem ouvir com maior seriedade as reivindicações em grande parte legítimas de mudanças em nosso sistema penal fundamentadas nos Direitos Humanos feitas por aquela poderosíssima facção criminosa que está tomando ares políticos, pretensos ou não ,e se autodenominando de "Partido", ao invés de querer aumentar ainda mais as nossas intermináveis filas processuais e presídios com os milhares de pacíficos religiosos que continuariam legitimamente a utilizar o Ayhuasca por desobediência civil.

O fato dessa facção criminosa, se a admitirmos como organização em parte política, ser uma grande infratora dos Direitos Humanos ,não justifica que também o sejamos para com ela, pois, a partir do momento que violamos os seus direitos como o fazemos nos aproximamos deles em sua perversidade, assim ,somos irmãos na crueldade e na desgraça social, embora aparentemente estejamos do lado dos "mocinhos" e eles dos "bandidos" . A injustiça é praticada por ambas as partes, e todas são culpadas, embora em graus diversos, sendo apenas essa graduação de culpa que as distingue, desconsiderando aqui aquela categoria de bandidos disfarçados de mocinhos tão comum em diversas instiuições brasileiras , que colocamos numa classe particular, a de bandidos institucionalizados, por se diferem dos bandidos apenas por serem protegidos e resguardados por tais instituições, sem, porém, deixar de igualar-se àqueles em sua culpabilidade. Chegamos ao cúmulo de permitir que uma organização criminosa diminuisse drasticamente a violência gratuita, os estupros e os assassinatos dentro dos presídios, coisa que seria uma terefa para a sociedade e os políticos brasileiros, mas nos furtamos disso por sempre termos sido cúmplices daqueles que veêm os presídios como depósitos para isolamento de detentos, assim, nos eximimos de qualquer responsabilidade perante a preservação das vidas destes, o que diminui a distância da tênue fronteira entre os "mocinhos" e os "bandidos". Na verdade, se tais bandidos parassem de perpertrar injustificáveis homícidios gratuitos contra os bodes expiatórios e os que são culpados apenas por omissão, diminuiriam a ponto de tornar quase imperceptível essa tênue fronteira que nos separa. Sendo assim, cumpre a nós, antes de tudo, nos humanizarmos e implementarmos melhorias em nossos degenerados sistemas sociais e penais, antes de pensarmos em condenar ao cárcere os seguidores de aspectos religiosos da cultura Amazônica que contribuíram para que muitos de seus grupos indígenas se aproximassem do Ideal da Justiça que nunca nem mesmo vislumbramos claramente, seja ela de âmbito jurídico, social ou ambiental. Infelizmente ,um esquisofrênico que frequentava eventualmente o Santo Daime assassinou um de seus líderes religiosos, o que coloca seus membros em luto passageiro. Já, muitos líderes e membros igualmente esquisofrênicos das grandes religiões perpetraram ou perpetram verdadeiros massacres, sendo isso também digno de luto, porém, neste caso, logicamente tal luto deve ser proporcional à dimensão das atrocidades por tais religiões já cometidas, não obstante reconheça serem estas na atualidade compostas em sua maioria por muito respeitáveis líderes religiosos.

















Um comentário:

  1. Num ato de Desobediência Civil,como adepto de religiões sincréticas nativas,exerço o direito de catequese que me é constitucionalmente garantido, e convido a todas as pessoas legalmente emancipadas e sem psicopatologias diagnosticadas e experimentarem para fins religiosos e de forma respeitosa o Ayahusca e todos os enteógenos que fazem parte da Cultura Nativa Americana,considerando eu isso,assim como os nossos indígenas,uma experiência religiosa muitíssimo válida e edificante.

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