domingo, 4 de abril de 2010

Para a imensa maioria dos brasileiros somos o país do Carnaval, e não o país do El Dorado.


Não que queiramos diminuir de forma ilegítima o incontestável valor cultural do tradicional Carnaval para a nossa nação, contudo devemos refletir muito sobre as consequências de colocarmos a emblemática dança da mulata e o Carnaval pasteurizado (anti-tradicional) como o símbolo maior de nossa cultura no mundo. Pode mostrar-se muitíssimo perigoso, se colocado como o símbolo maior da cultura de nossa nação, o reboleante gingado das nossas exuberantes negras e mulatas desnudas, embora seja aquele uma expressão dadivosa da sensualidade não reprimida corporificada por nossas valiosíssimas heranças culturais africanas, assim como uma dança de inegável beleza estética e valor cultural, além de fazer-se em seu estado não distorcido fonte de saúde psíquica para as suas dançarinas, em razão de comumente significar menor conteúdo inconsciente recalcado para aquelas que praticam tal dança assiduamente desde a infância. O problema não é representado de nehuma forma pelo Carnaval e pela referida dança exuberante em si mesma, mas pela distorção do conteúdo simbólico desta operada sobretudo pelos estrangeiros e pelos setores domininantes da grande mídia nacional, quando tal dança é colocada por essa mídia como o símbolo maior de nossa nação. Isso acaba por inferiorizar nossas mulatas, fazendo com que sejam vistas por muitos estrangeiros como objetos de desejo sexual quase desprovidos de alma e de sentimento, através da consolidação feita pela mídia nacional da antiga imagem deformada do Brasil como um paraíso carnal. Em razão de tanto consolidarmos essa imagem através de nossa grande mídia, acabamos por incorporá-la, dia após dia tornando-nos mais sexual e moralmente permissivos, e estamos verdadeiramente nos transfigurando paulatinamente no paraíso sexual e no inferno moral implícito na expressão "país do Carnaval", se vista através desse ambiente semântico específico. Mas, nossas negras e mulatas da época da escravidão via de regra não eram libidinosos objetos sexuais de baixa moral desprovidos de alma, e sim mulheres nobres de caráter e moralmente respeitáveis, exacravelmente violentadas e deformadas pelos colonizadores. Nesse caso, os moralmente e sexualmente permissivos eram os colonizadores, e não as escravas negras. Contudo, os colonizadores europeus nunca aceitaram ser simbolizados pela imagem de moralmente e sexualmente permissivos, pois eles sempre ocultaram suas depravações, transformando em seus símbolos maiores os apectos positivos e edificantes de sua cultura, de forma a criar uma identidade cultural que reforçasse tais aspectos. E nós, por ironia do destino, reforçamos a imagem mórbida de uma nação licenciosa e moralmente baixa, deformamos nossa cultura , aceitamos ser simbolizados por tal título historicamente imerecido, e, por fim, acabamos por tranformá-lo na marca maior de nossa identidade nacional. Hoje, podemos dizer que somos verdadeiramente o país do Carnaval! O Samba de Raíz ,o Candomblé, o Bumba- Meu-Boi (nordestino), o Maracatu, a Capoeira, o Congado, etc. são autênticas ,saudáveis e edificantes manifestações da cultura afro-brasileira, e não o Carnaval pasteurizado e esterilizado anti-tradicional tão conhecido no exterior e reforçado pela mídia nacional.

Desde a época da escravidão, a sensual dança tribal da belíssima negra desnuda tomou fama internacional, devendo-se em parte à criação e ao reforço da deformada e abominável imagem da "negra licenciosa"associada a tal dança o fato de tantos portugueses terem aqui desembarcado sem suas esposas em nosso passado. A belíssima sensualidade personificada por aquelas danças tribais foi deformada pela visão ibérica colonial, tornou-se símbolo e motivo de desgraças e das mais repudiosas desonras ao sagrado sexo das violadas negras, transformando a dadivosa virtude de uma sensualidade não reprimida em fonte dos abusos mais condenáveis. Hoje, não por obra do mero acaso, assim como na época da escravidão, um número alarmante de pessoas vem ao nosso país em busca de sexo fácil, descompromissado e ardente , fazendo com que o Brasil receba na atualidade o título de capital mundial do turismo sexual, o que é uma vergonha nacional. Os colonizadores europeus acabaram por ter como sexualidade não reprimida o que era apenas sensualidade não reprimida, e comumente o cidadão médio da Europa continua a pensar dessa forma em realação a nós até os dias de hoje, o que pode até ser de certo modo verdadeiro, se aplicado restritamente à atualidade.

Divulgamos atualmente para o exterior como símbolo máximo de nossa nação a mesma imagem que foi motivo da violação e desonra das nossas negras no pasado. A virtuosa sensualidade pouco reprimida da negra e da mulata continua sendo vista em geral de forma distorcida e mórbida pelos estrangeiros, fazendo com que aquela continue a ser profanada,da mesma forma que o foi na época colonial. E isso tem nos acarretado danos culturais terríveis, uma vez que aceitamos tal visão estrangeira deformada acerca de nós mesmos, transformando-nos lenta e inexoravelmente em tal deformação. Devido sobretudo ao fato de termos feito do Carnaval o nosso símbolo nacional maior, é sem dúvida ainda muito comum no exterior a visão desonrosa e distorcida derivada da época escravagista que coloca as nossas exuberantes negras e mulatas como pessoas culturalmente inferiores ,dotadas de uma permissiva sexualidade exacerbada ocasionada pelo não refreamento de seus impulsos primitivos, o que colocaria tais negras, segundo essa mórbida visão, na qualidade de meros objetos para a realização dos prazeres mais extravagantes. Ao invés de trabalharmos para nos desvincular da imagem criada na época colonial de que o Brasil é um paraíso sexual suavizando a divulgação desse aspecto de nossa cultura e elegendo outro maior como o nosso símbolo, quando fizemos do Carnaval o nosso emblema nacional, acabamos por reforçar aquela perniciosa imagem de que deveríamos nos desvencilhar. Os nossos três emblemas maiores e mais reforçados pela mídia nacional são de país do Carnaval, do futebol e do "jetinho brasileiro".Enquanto isso, quase nada divulgamos sobre a Cultura da Amazônia, em razão de desconhecermos os aspectos maiores desta. O que divulgamos sobre a Cultura da Amazônia é um tosco simulacro de sua verdadeira grandeza.

O Brasil, em consequência disso ,desde a época da escravidão é tido como um luxuriante paraíso sexual, e isso não é nada bom para a consolidação e o estabelecimento da identidade cultural de nosso país . A antes saudável sensualidade de nosso povo continua a ser violentada e distorcida, assumindo atualmente um caráter culturalmente patológico advindo dessa distorção. Sendo assim, para o bem de nosso povo o Carnaval anti-tradicional deveria ser por nós tido como algo de importância cultural secundária, e não como o seu patrimônio cultural maior, o qual deveria ser edificante e engrandecer o valor da cultura brasileira no mundo. Para nós, o Brasil sempre será o país do El Dorado do Parima, do Sumé, das Amazonas, do Peabiru, da música de Villa-Lobos . Mas o brasileiro em geral desconhece esse Brasil grandioso.

Mas, infelizmente, para a maioria das pessoas ,assim como para a emissora de que tratamos na postagem anterior, o Brasil é o país do Carnaval, sendo este o seu símbolo maior, não é à toa que nossa nação está se transformando em uma piada tragicômica, com políticos corruptos que se portam como pantafaçudos estriões e arlequins, os quais se tornam objetos não de escárnio e condenação, mas de chacotas do nosso povo carente e aculturado. Talvez o Brasil acorde de seu transe carnavalesco depois que perder uma boa parte da Província Mineral do El Dorado do Parima para nações mais sérias e amadurecidas. Ou talvez o Brasil transforme uma eventual perda de parte da Amazônia em mais uma patética piada, pois aqui é o país do Carnaval! Enquanto o El Dorado do Parima é esquecido por nossas autoridades, o Brasil investe centenas de milhões no Carnaval! Brindemos, pois, a esse transe carnavalesco para não acordarmos diante da triste realidade de que tratamos.

Essa é a imagem predominante que os estrangeiros médios têm sobre o "país do Carnaval", e isso não é nada bom para nós.




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