quarta-feira, 21 de outubro de 2009

O Lago Parima é dos brasileiros, mas é uma pena que em geral eles não saibam disso.










Trata-se de algo verdadeiramente lamentável e desonroso à nossa cultura, mas a grande maioria de nós brasileiros não sabe nem mesmo o que é o mundialmente célebre Lago Parima, muito menos que este foi descoberto, e isso permite que constatemos a dimensão dos vultuosos problemas da sociedade, do meio acadêmico, do sistema de ensino, da grande mídia e dos ministérios competentes, no que se refere à consolidação da nossa tão auto-depreciada identidade cultural e à valorização e resgate de nossas tradições indígenas. É verdadeiramente terrível que nos seja desconhecido o El Dorado do Parima, o qual merecidamente deveria constar em todo material de ensino secundarista brasileiro nas disciplinas de história e de geografia, conquanto tenha sido delido injustamente da memória povo desse país, o que contruibui de forma significativa para a consolidação da visão aviltante que comumente temos acerca de nosso passado e, por conseguinte, de nós mesmos, no que se refere à nossa identidade cultural coletiva. É mais lamentável ainda notarmos em nossas conversas nos ministérios competentes que seus respectivos quadros de funcionários, em geral também nunca ouviram falar no El Dorado do Lago Parima, considerando que estes deveriam de forma obrigatória conhecê-lo com certa profundidade. É um grande motivo de desonra para nós brasileiros nos depararmos com milhares de livros exarados por grandes autores estrangeiros que tratam profundamente do historicamente intitulado "El Dorado do Parima" , publicados durante séculos em outros países, ao passo que na pátria que o sedia este tenha sido remitido de sua história e obliterado de sua cultura, condenado aos umbráticos resavaladouros da ignorância e do esquecimento. Então ,a celebridade mundial do Lago Parima, que deveria ser para nós motivo de grande honra, deve causar-nos a mais profunda vergonha. É uma pena que esse nome ,tão conhecido por sumidades do porte de Shakespeare, Voltaire, John Milton, Edgar Allan Poe, Michel Foucault ,Humboldt, Alfred Wallace, etc. tenha sido expungido da história do país que o sedia.
Com toda certeza, se nós brasileiros conhecêssemos o que é o El Dorado Parima ,assim como o local aonde as menções históricas o situavam, os ministérios competentes já teriam tomado as providências cabíveis à proteção e à pesquisa deste ,assim como do eventual patrimônio arqueológico lavrado em metais preciosos, cuja existência é afirmada de forma recorrente por diversas menções históricas. É preciso dizer que o patrimônio arqueológico lavrado em metais preciosos afirmado pelas menções históricas, embora não tenha sido ainda por nós localizado, levantado ou avaliado, talvez em parte devido à total ausência de pesquisas, está totalmente desprotegido caso realmente se faça presente, o que o torna presa fácil para possíveis saqueadores. E deixarmos algo internacionalmente tão célebre desprotegido é no mínimo insensato, para não dizer estulto. Já, quanto à Província Mineral historicamente relacionada ao El Dorado do Parima ,cuja existência já foi comprovada, não cabe a nós de nós de nenhuma forma reivindicar a implementação das medidas de proteção pertinentes,tendo em conta que isso foge inteiramente ao nosso campo de trabalho, sendo de âmbito do Exército, da Abin ,do MCT, do IPHAN, do MMA, do MINC, etc., medidas estas que devem ser específicas e levar em conta o contexto histórico de tal região. Em todo caso, é de extrema importância que a sociedade brasileira não seja privada do direito inalienável de conhecer a história e a descoberta do Lago Parima e da Província Mineral pertinente, a fim de que essa questão seja submetida ao debate público ,possibilitando àquela reivindicar a implementação das referidas medidas, porquanto o desconhecimento desta acerca de tais temas é um atentado sem precedentes contra a sua cultura e pode resultar em danos severos contra o seu patrimônio de diversas ordens.

Mas ,se nós brasileiros não conhecemos o Lago Parima ,assim como os patrimônios hipotética e comprovadamente relacionados, não será para nós nenhum grande prejuízo se os perdermos para aqueles que se interessem profundamente por eles. A elite cultural e econômica brasileira, que deveria ser a maior propaladora, zeladora e mantenedora de nosso patrimônio cultural relacionado nossas tradições indígenas, está em sua grande maioria interessada em promover, conhecer fisicamente ou através de estudos a grandeza cultural europeia e americana, pois isso é por eles tido enganosamente como um sinal de refinamento e elegância. Com certeza, dentre dez brasileiros das classes privilegiadas que viajam com frequência para a Europa e estudam a sua cultura, menos de um conhece fisicamente ou pesquisa a tradição e a história da Amazônia, o berço cultural do Brasil, pois conhecer a nossa cultura nativa para nós não é sinal de refinamento ou elegância. Obviamente, não podemos falar de cultura brasileira sem falar em cultura amazônica, pois nela aquela reside e floresce em seu estado mais genuíno, opulente e puro, e não nas manifestações culturais advenientes do contato estrangeiro, que são também inegavelmente importantes, mas não constituem o repositório dos rebentos virgens da cultura de nossa pátria que, em seus ubérrimos seios foram alimentados desde as origens, e ,não apartando-se deles de forma violenta, atingiram a mais perfeita comunhão com o sacratíssimo útero que os gerou, ensinando ao mundo com suprema sabedoria a não violar as entranhas de nossa mãe com as enfermas pestes que a tem condenado ao fenecimento. E esta é a maior contribuição da cultura nativa latino-americana ao mundo, ou seja, a de ensinar, através dos elevados valores de nossa cultura ancestral, que o homem pode edificar grandes civilizações ou diversificadíssimas etnias indígenas que tem como o paradigma maior comum o mais profundo respeito para com a natureza.


Não percebemos que tal "refinamento" está transformando nossa elite em rudes e patéticas caricaturas dos refinados europeus. Esse "refinamento" servil só contribui para a abjeta negação e depreciação da nossa cultura promovida sobretudo por nós mesmos. Com certeza, são verdadeiramente belíssimos e requintados certos aspectos da cultura e história da Europa e dos Estados Unidos, mas cabe a nós brasileiros afirmar primeiramente a nossa grandeza cultural a fim de que tais aspectos não a obliterem.E talvez o elemento maior de nossa grandeza cultural seja representado pela conquista do Antisuyo, quando ,num dos momentos épicos de nossa história, o Império Inca anexou aos seus domínios grandes porções do Brasil , Venezuela, Guiana(s),unindo-nos e irmanando-nos culturalmente, cabendo a nós recapitular esse momento épico de nossa cultura e zelar pela Integração Cultural da América Latina,de forma a resistirmos contra uma espécie de imperialismo cultural. Não podemos continuar a ser uma exuberante potência cultural que ingloriamente desconhece e nega a si mesma como tal, condenando ao esquecimento muitos de seus aspectos maiores. É certo que não devemos ser provincianos e nos interessar somente pelo que diz respeito à nossa cultura, mas o que se sucede nesse caso é valorizar os aspectos culturais dos países economicamente desenvolvidos em detrimento daqueles ínsitos a nós mesmos. Com efeito, convidamos toda a sociedade brasileira a reverter esse quadro pernicioso a nossa cultura, tendo por fim reconhecer-se e afirmar-se como partícipe de uma nação que constitui uma das mais importantes e diversificadas potências culturais do mundo, tal como amplamente aceito pelos europeus.